nviada: 14/11/2012 22:15
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Autoridade na cultura do Nordeste do Brasil, o historiador Frederico Pernambucano de Mello nos apresenta o livro Benjamin Abrahão: entre anjos e cangaceiros
(Escrituras Editora), que traz a biografia do secretário particular do
padre Cícero, do Juazeiro, de 1917 a 1934, além de fotógrafo autorizado
do cangaceiro Lampião, tendo acompanhado os diferentes bandos de que
este dispunha em sete Estados do Nordeste, no meado de 1936,
creditando-se como responsável pela mais completa documentação do
cangaço jamais obtida, ao incorporar a imagem cinematográfica às velhas
fotografias conhecidas.
A
obraé ensaio interdisciplinar que ocupou boa parte da vida do autor, e
também um livro de arte, com dezenas de fotografias e de fotogramas
históricos da trajetória do sírio Benjamin Abrahão Calil Botto -- um
"conterrâneo de Jesus", como se declarava, por conta do nascimento em
Belém, na Terra Santa --, que desembarcou no Porto do Recife em 1915,
aos 15 anos de idade, fugindo da Grande Guerra, para trilhar uma
aventura extraordinária pelos sertões do Brasil setentrional.
No livro,
Pernambucano de Mello, reconhecido por Gilberto Freyre, já em 1984, como
"mestre de mestres em assuntos de cangaço", apresenta pesquisa
profunda, feita ao longo de 40 anos. Pela primeira vez, é divulgado o
conteúdo da caderneta de campo deixada por Benjamin Abrahão, recolhida
pela polícia no momento de seu assassinato com 42 punhaladas, no começo
de 1938, no sertão de Pernambuco, aos 37 anos de idade. Cobrindo os anos
da missão sobre o cangaço, a caderneta abrange o período 1935-1937, com
lançamentos alternados em português e em árabe, assim impusesse a
necessidade de sigilo sobre o assunto.O historiadortrabalhou por três
anos, com dois professores de árabe, traduzindo, ponto a ponto, o
conteúdo averbado -- muitas vezes resultante de conversas noite adentro
com Lampião, Maria Bonita e outros cangaceiros -- que são relatos que
matam polêmicas e contestam versões atuais sobre fatos e figuras das
décadas de 1910, 1920 e 1930, como o polêmico Floro Bartolomeu da Costa e
a apregoada amizade entre Lampião e o padre Cícero, além de informações
que dizem respeito ao real combate do Batalhão Patriótico à Coluna
Prestes, para o qual traz entrevista inédita que fez com Prestes, em
1983, no Recife.
Particularmente importante, pela originalidade, é a revelação da matriz setecentista e
estrangeira do pensamento social brasileiro dos anos 1930 sobre o
cangaço, presente, sobretudo no chamado romance nordestino, tendente a
culpar a sociedade e a desculpar os excessos dos protagonistas do
fenômeno. O mesmo se diga sobre a revelação, de todo desconhecida até o
presente, dos esforços de apropriação internacional do apelo épico que o
tema encerra, por parte das facções travadas em luta de morte ao longo
da década aludida: o Reich alemão contra o Soviete russo, Hitler contra
Stalin, ao tempo em que Lampião dava as cartas na caatinga.
O livro traz
ainda apêndice com a reprodução de importantes documentos, colhidos em
pesquisa que contou com o apoio de muitos colaboradores e instituições,
como aFundação Joaquim Nabuco, do Recife, a Cinemateca Brasileira de São
Paulo, os arquivos Renato Casimiro/Daniel Walker, do Juazeiro, e da
antiga Aba-Film, de Fortaleza, ambos do Ceará, entre outros.
Sobre o autor:
Frederico Pernambucano de Mellopossui
formação em história e direito. Na Fundação Joaquim Nabuco, do
Ministério da Educação, integrou a equipe do sociólogo Gilberto Freyre,
de 1972 a 1987, período em que se especializou no estudo da cultura da
região Nordeste do Brasil, tendo publicado os seguintes livros: Rota batida: escritos de lazere de ofício, Recife, Edições Pirata, 1983; Guerreiros do sol: violência ebanditismo no Nordeste do Brasil, Recife, Editora Massangana/ Fundação Joaquim Nabuco, 1985 [ora em 5ª edição pelo selo A Girafa, de São Paulo]; Quem foi Lampião, Recife-Zürich, Stähli Edition, 1993 [ora em 3ª edição]; A guerra total de Canudos, Recife-Zürich, Stähli Edition, 1997 [ora em 3ª edição pela A Girafa]; Delmiro Gouveia: desenvolvimentocom impulso de preservaçãoambiental, Recife, Editora Massangana/ Fundação Joaquim Nabuco-CHESF, 1998; Guararapes: uma visita àsorigens da Pátria, Recife, Editora Massangana/Fundação Joaquim Nabuco, 2002; Tragédia dos blindados: a Revoluçãode 30 no Recife, Recife, Editora Massangana/Fundação Joaquim Nabuco, 2007; Estrelas de couro: a estética docangaço,
São Paulo, Escrituras Editora, 2010, livro finalista do Prêmio Jabuti
de 2011, nas categorias projeto gráfico e ciências humanas. É
membro dos Institutos Históricos de Pernambuco, Alagoas e Rio Grande do
Norte, do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil, e da
Academia de História Militar Terrestre, tendo sido curador internacional
da Fundação Bienal de São Paulo para a Mostra do Redescobrimento -
Brasil 500 Anos, São Paulo, 2000, e presidente da União Brasileira de
Escritores - Seção de Pernambuco. Na
Academia Pernambucana de Letras, ocupa a cadeira 36 desde o ano de
1988. Pela originalidade de seus estudos, pelo volume da obra que
produziu, e por se dedicar a aspectos de nossa história considerados
ásperos e de pesquisa difícil, tem sido considerado o "historiador do
Brasil profundo", na palavra do professor Nelson Aguilar.
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