Antonio Albino Canelas Rubim *
O teatro baiano, por sua trajetória e atualidade, demanda uma política cultural específica. Mais que isto, por sua complexidade, reivindica uma política sensível, pelo menos, às suas diversificadas manifestações expressas como teatro profissional, amador e de rua. Esta política, além de estar atenta à multiplicidade de modalidades expressivas, deve ser capaz de acolher todos os momentos vitais do ciclo do fazer cultural.
A criação sempre ocupa lugar de destaque na arte, inclusive no teatro. Ela é o instante, por excelência, da criatividade, da conformação da invenção e da inovação, tão essenciais à vida cultural. Sem criação não há cultura, arte ou teatro. Ela, sempre surpreendente, condensa o instante mágico da renovação estética. Mas a política para o teatro não pode apenas estar concentrada na criação. Por mais fundamental que ela possa ser, a criação não pode substituir outros elos, nem esquecer toda a complexidade do ciclo dinâmico da cultura e da arte.
O teatro, como toda a cultura, requer divulgação para atingir e despertar a atenção de novas plateias. Ele também precisa circular, buscar novos ambientes, nos quais possa ser acolhido e se conectar com seu público. Sem incorporar medidas relativas à difusão, qualquer política cultural para o teatro se mostra insuficiente, pois a relação com pessoas aparece como condição imanente para a existência mesma do teatro, enquanto modalidade artística singular. O teatro depende da sua instigante e sempre renovada interação com o público. No teatro, diferente de outras linguagens artísticas, o público não pode ser um consumidor espacialmente distante, mas sujeitos presentes que interferem na representação e na cena, dando sentido e singularidade ao teatro como expressão artística ímpar. A formação de plateia e o desenvolvimento de um mercado consumidor são, por consequência, atividades inerentes a uma consistente política para o teatro.
Outra modalidade de formação emerge como imprescindível ao teatro: a qualificação de pessoal. Ela possibilita a reinvenção continuada da cena teatral com o aparecimento de novos atores, diretores, dramaturgos, cenógrafos etc. Neste horizonte, a Bahia, por sua longa tradição de formação, tem sido pródiga doando ao país muitas e significativas personalidades no campo teatral.
A preservação da história e da memória configura outra dimensão que deve ser sempre contemplada em uma satisfatória política para o teatro baiano. Conhecer e reconhecer seu passado estimula a autoestima e possibilita partir de um patamar criativo bastante estimulante para desenvolver a arte teatral na Bahia. Entretanto, a memória e a atualidade devem ser abordadas em perspectiva crítica e assumidas através de estudos e pesquisas substantivas. Com relação aos estudos, a Bahia tem igualmente uma posição notável. A inexistência de um ambiente ativo de debate e crítica, ao mesmo tempo fraterna e rigorosa, inibe o desenvolvimento da cultura e do teatro.
Por fim, uma política em sintonia fina com o teatro não pode deixar de estimular a organização do campo teatral na Bahia. Cabe não apenas equacionar a questão do teatro profissional, mas também novos modelos alternativos de organização e produção para outras modalidades de teatro e pensar formatos contemporâneos de negócios para consolidar o teatro baiano. Por óbvio, toda esta política deve ser construída em diálogo constante com o campo do teatro, através de um debate aberto e franco.
A Temporada Verão Cênico, imaginada pela Fundação Cultural do Estado da Bahia, pretende enfrentar vários dos desafios inscritos na conformação de uma política democrática e consistente para o teatro baiano. Ela articula modalidades distintas de teatro. Ela busca dar conta de momentos diferenciados e complementares do fazer teatral, como produção, difusão e circulação. Ela resulta – e isto é fundamental – de uma parceria efetiva com artistas e espaços culturais, públicos e privados. O Verão Cênico é um esboço e uma antevisão da política pública que a Secretaria de Cultura tem obrigação de construir colaborativamente para que a população baiana possa viver cada vez mais e melhor teatro, arte e cultura.
* Secretário de Cultura do Estado da Bahia
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